Foi numa manhã como a de hoje, em que uma chuvisca insidiosa e miúda teimava em se infiltrar na roupa e na pele. Era Agosto. Um Agosto longínquo, velho de doze anos. O peregrino caminhava, sozinho, derrotado. Não lhe importavam os pés pejados de bolhas, nem a pele irritada, nem os reclamos cansados dos músculos. A sua derrota, a sua desolação, vinham-lhe do espírito e não do corpo. O peregrino caminhava para o Santuário carregado, esmagado, por uma dor imensa, por um horrendo buraco na alma. Sofrera uma perda medonha, incompreensível, dolorosíssima. Ia derrotado por essa perda. Havia desistido. Abdicara da esperança.
Mas o caminho que sem esperança trilhava para o Santuário conduziu-o ao avistamento, através do nevoeiro, de uma placa anunciativa do nome de uma localidade: “Esperança”!
E o peregrino percebeu. Que nenhuma derrota é definitiva. Que nenhuma dor aniquila. Que não há fim que não possa ser também princípio. Que não há morte que não possa voltar a ser vida.
Passados estes anos, o dia de hoje mostra-se também triste. A perda dói. A vida terminada de forma absurdamente precoce...
E é também no Santuário que hoje o peregrino reencontra e sente a Esperança que pode existir em toda a perda, em toda a dor.
Hoje, ao regressar de Fátima, o peregrino leva de novo um buraco na alma. Já começou, devagarinho, a enche-lo de Esperança.
1 comentário:
Não tires, mas por favor põe um post novo! A.
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